CONSTELAÇÃO MAIOR
Ontem estive sentada ao pé dos anjos, embalada pelo marulhar do Índico.
Acreditava, mãe, que depois de teres descido à terra uns dias antes,
haverias de voltar para passear na praia ao entardecer.
Queria abraçar-te, beijar-te, passear contigo de mão dada à beira-mar,
como tantas vezes fizemos.
Os anjos foram chegando e sentaram-se comigo junto ao Índico.
Sorriam melodias de harpa e a sua linguagem era a dos cânticos das estrelas.
Esperei tanto tempo por ti, mãe !
Até que começou a arrefecer e a ficar escuro.
As constelações acenderam-se de cores.
Vi o teu sorriso no seio da constelação maior
e compreendi que não mais poderias passear comigo de mão dada à beira-mar.
A minha alma fez-se mar de sangue.
Nesse momento, os anjos ressuscitaram o meu coração,
deram-me a mão e levaram-me a casa.
Mãe, hoje voltei ao Índico
e senti que ontem os anjos tinham sido enviados pelo teu sorriso
para que eu interiorizasse que tu estavas no seio de Deus para todo o sempre.
Agora sei que tu e os anjos fazem parte da mesma constelação.
E quando a noite cair,
verei sempre, no seio da constelação maior,
o teu sorriso e o sorriso dos anjos que ontem desceram à terra.
Então, tu e eles sorrirão melodias de harpa
e a vossa linguagem será a dos cânticos das estrelas.
Numa festa permanente, a constelação maior desenhará no céu a palavra MÃE.
Texto e Foto: Isabel Maria