domingo, 13 de março de 2011

Metamorfose

Sonha a crisálida um voo azul;
solta as asas que não tem; fende
o espaço que nunca viu. Imóvel,
tem todo o tempo para se iludir.

Mesmo que chova ou faça sol, o céu
da crisálida não muda: feito
com as teias do casulo, é o céu
da matamorfose, sem ar nem transparência.

Vive em mim essa crisálida. Deixo-a
transformar-se, sonhar o seu sonho
de voo, bater as asas que nunca teve.

E, se um dia sair do casulo, sei
que arrastará as teias da crisálida,
chorando o dia em que se fez borboleta.

in "O Breve Sentimento do Eterno", de Nuno Júdice, Edições Nelson de Matos, 2008, pag. 39.

22 comentários:

  1. Excelente escolha. "... Poria uma escada encostada
    à parede, e sentar-te-ias num dos seus
    degraus, lendo o livro da vida...", do mesmo autor.

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  2. "O Breve Sentimento do Eterno", Também o desfolheio de vez em quando.
    Boa escolha
    Bjs

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  3. E, Álvaro, também gosto muito deste, da mesma obra do mesmo autor:

    Palavras

    Apanhas do chão as palavras gastas,
    como frutos podres; uma a uma,
    no poema, formam a frase que
    nunca imaginaste, com um sentido exacto.

    E vês a árvore de onde caíram,
    com as suas folhas de sílabas
    e os seus ramos de verso, segredar-te
    um musgop de sentimento ao ouvido.

    Agora, as palavras são tuas. Envolvem-
    te como a hera se agarra aos muros,
    e crescem por ti dentro até à alma.

    Então, colhe as palavras que te enchem,
    antes que caiam como frutos podres, e
    oferece-as a quem passa, no cesto do poema.

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  4. Comungo do seu sentimento, Lilá(s, porque também eu o guardo como um colar de pérolas.
    Um beijo.

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  5. Boa noite Isabel.Lindíssimo poema que não conhecia, e obrigada pela partilha.è neste mundo virtual que se encontra palavras que nos une e nos diz tanto a cada um ( como esta,Sonha a crisálida um voo azul;
    solta as asas que não tem!Adorei ler.Obrigada pela visita,e como fiquei feliz em seguir este blog,que fala de poesia.
    Beijinho

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  6. "Debate-se, desenrola-se, revolve-se, procura esticar-se, desprender as asas...
    Está dentro do seu casulo, a crisálida ainda sem luz e cor, à espera da sua vez para o grande momento da sua vida: a sua metamorfose em borboleta.
    E se ela não acontecer? Se não estiver destinado ou se não a destinar para si? Sim, tudo pode acontecer...
    A sua vulnerabilidade pode ser uma presa fácil para os predadores.
    Terá que aprender a mimetizar-se, deixar-se confundir com o que a rodeia, ser mais um casulo no meio de tantos, escondido pela densa florestação.
    Assim as suas chances de sobrevivência aumentam...
    Mas ela quererá apenas sobreviver? O que muda?
    Não lhe bastará sair do casulo, da letargia, da passividade e lançar as suas belas asas ao vento!

    Não, Não Senhor. Não lhe bastará.
    Sentir-se-á, ainda e sempre, tolhida de liberdade. Bater as asas só as exercitará. Necessita de impulsos que a lançarão cada vez mais longe. Senão o que a diferenciava da mariposa que voa em circulos à volta da luz?
    Toma consciência, por isso prolonga o momento de enfrentar o exterior.
    Interioriza-se, volta-se para dentro de si, mas não perde a noção dos que esvoaçam por ali perto.
    Batem tanto as suas asas que chegam a ser ruidosos, esses movimentos.
    Até que... Até que...
    Algo inusitado acontece. O inverosímil."
    CF
    Querida Isabel este texto dedico-o a si. É da minha autoria. Espero que goste.
    desculpe o espeço "roubado" pelo meu comentário tão grande.
    Bjs

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  7. Esse poema é belíssimo, e sou particularmente apaixonada pelos seguintes versos:

    "Vive em mim essa crisálida. Deixo-a
    transformar-se, sonhar o seu sonho
    de voo, bater as asas que nunca teve."

    Linda escolha, Isabel!

    Boa semana, querida. Bjs e inté!

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  8. Querida CF:
    Muito bonito mesmo! Que sensibilidade tão refinada! E fiquei tão emocionada por me ter oferecido este presente de cor, luz e música! Bem haja.
    Um abraço cheio de estrelinhas esvoaçantes, multicolores e perfumadas, que semeio à volta do seu texto.

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  9. Isabel
    Obrigada pelas palavras e acredite que o prazer foi todo meu pela partilha...
    Esse texto está algures no meu blogue e achei interessante as ideias se entrecuzarem... claro que com a mestria do Júdice..
    bjs grandes

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  10. Vim pela primera vez ao seu blog.
    Gosto de ler poesia, relê-la e compreende-la.só assim se dá aso ao pensamento e nos transporta à magia.
    Parabéns, não conhecia.
    Parabens também ao comentário da C.F.
    Até breve
    Herminia

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  11. Obrigada, Ermínia Pinto e Hermínia Lopes. Apareçam sempre.
    A poesia é a alavanca mágica da vida.
    Um beijinho.

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  12. Emília Pinto e Hermínia Lopes: Enganei-me ao escrever o vosso nome. Desculpem. Aqui fica a rectificação.
    Outro beijinho.

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  13. Olá, Isabel

    Lindo poema, este, de Nuno Júdice.Com um alcance que me ultrapassa e me faz sentir pequenina.

    Beijos

    Olinda

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  14. Olá, Isabel
    Embora Nuno Júdice tenha muitos outros poemas bonitos, este é, talvez, um dos mais belos.
    Foi uma escolha óptima!

    Bom fim de semana. Beijinhos

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  15. Olá, Mariazita!
    São excelentes os poemas do Júdice. Qualquer deles.
    Gosto sempre de te ver aqui.
    Um beijo.

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  16. Olá, Olinda!
    Também eu me sinto pequenina ao pé da grandeza do Júdice.
    Aparece sempre.
    Um beijo.

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  17. ... eu adoro Nuno Júdice! É um autor que me toca muito de perto!

    Um escolha muito bonita para este início de 'metamorfoses' que a Primavera desperta!

    Uma linda semana!
    Um beijo,

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  18. Bom dia, Isabel

    Venho "buscar" a Crisálida para ler e reler.

    Posso?

    Olinda

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  19. Querida Fragmentos Culturais:

    Também gosto muito de ler Nuno Júdice.
    Obrigada pela visita.
    Um beijinho.

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  20. Somos crisálida que anseia o voo antes de rompermos um casulo que nos encerra.

    Bonita escolha. Não conhecia. Obrigada!

    Bjins

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