Naquele Natal, a pequena Angélica tinha pedido uma prenda muito especial ao Menino Jesus: o milagre de voltar a estar com sua mãe que, uns meses antes, falecera vítima de doença prolongada. Queria que lhe fosse concedida a bênção de estar com sua mãe só mais um Natal, e afagar o rosto dela só mais uma vez, e outra ainda, e mais outra, e só mais uma...
Veio-lhe à memória o sorriso doce da mãe, a prodigalizar-lhe todo o amor que brotava do seu coração gigante, o tom quente e o timbre aveludado de uma voz que semeava paz em seu redor, e a pele suave de umas mãos que lhe afagavam os caracois loiros quando ela se afundava num porto de abrigo ímpar: o colo de sua mãe.
Uma vez mais, chorou convulsivamente, porque apesar dos seus 6 anos de idade, ela sabia que sua mãe havia partido numa manhã fria de Março para não mais voltar.
E a chorar desesperadamente, a pequena Angélica adormeceu, enroscando-se tão profundamente no seu sono, como em outros dias se enroscara no colo de sua mãe.
Do alto dos céus, descia agora uma melodia cantada por um coro de querubins. Pé ante pé, a mãe da pequena Angélica aproximou-se da cama da filha com o mesmo sorriso celestial de outrora, e, cobrindo-a com um manto de paz, pousou serenamente os lábios na face molhada dela, depositando nesse beijo o amor de toda uma vida que não lhe foi dado viver com a sua menina. Depois, pediu à pequena Angélica que não chorasse mais, porque ela iria estar presente naquele Natal e em todos os outros, como iria estar sempre presente em todos os momentos da vida de sua filha. Num frémito de amor e saudade, a pequena Angélica estendeu os bracitos roliços para envolver o pescoço de sua mãe e a apertar contra o peito. Foi então que das duas estrelinhas azuis que a mãe sempre trazia no olhar, se desprendeu uma copiosa chuva de estrelas que, congregando em seu redor, catadupas de cometas, acompanhou em cortejo o seu regresso ao céu. Mas antes de partir, a mãe da pequena Angélica depositou uma estrelinha na almofada da filha.
Angélica acordou mergulhada numa neblina de tranquilidade espiritual. Ao ver a estrelinha que brilhava na almofada, acariciou-a e olhou para o Menino Jesus de terracota que sobre a mesinha de cabeceira, a observava com um sorriso de felicidade. Angélica devolveu-lhe o sorriso, e beijando-lhe a face rechonchuda, segredou-lhe: “Muito obrigada por este milagre de Natal!”.
Quando naquela manhã de Natal, a pequena Angélica saíu do seu quarto e chegou à sala, foi com surpresa que o pai, ao dar-lhe dois beijos, notou no rosto da filha o renascer do sorriso de felicidade que desde uma manhã fria de Março tinha deixado de morar nela.
A partir daquele dia, a pequena Angélica interiorizou uma certeza que lhe deu alento: do alto dos céus, sua mãe zelaria dia e noite pela sua existência, iluminando sempre o caminho da filha e lançando estrelinhas à sua passagem. Naquele Natal, a pequena Angélica ficou a saber que quando amamos verdadeiramente alguém, essa pessoa conquista o estatuto da imortalidade, vivendo para todo o sempre dentro de nós em jeito de rasto fulgurante que nos afaga a alma, fazendo da nossa vida uma permanente festa de Natal.
Texto e fotografia: Isabel Maria.
Lindo demais este conto de Natal que nos leva mais uma vez a afirmar que os nossos queridos que partem, não o fazem para sempre; eles ficarão connosco através do significado que deixaram em nossas vidas; a ausência deles deixa-nos uma saudade imensa, às vezes dolorosa, mas é essa saudade que faz deles imortais em nossos corações. Li uma vez que uma menina que iria morrer de cancro disse para o seu médico que estava triste porque sabia que a mãe iria ter muitas saudades dela. O médico perguntou-lhe se ela sabia o que era saudade ao que ela respondeu: " saudade é o amor que fica" Nunca encontrei um significado mais bonito para a palavra saudade. E é esse amor que fica em cada um de nós que nos faz ter a certeza de que os nossos ente queridos continuam connosco. Parabéns, Isabel! Um conto lindo cheio de esperança.
ResponderEliminarLindo conto de Natal,bem elaborado e mergulhada em sonhos e magia.A nossa mãe é sempre a nossa estrela guia ao longo da vida.
ResponderEliminarBeijinho
Olá Isabel,
ResponderEliminarContas uma história cheia de ternura e de esperança.
A medida que eu ia lendo a tua história, ia me colocando no papel da Angélica porque a minha mãe "partiu" há 8 meses e é verdade que eu a sinto presente.
Agradeço a tua visita no meu cantinho verde.
Bisous
Verdinha
Querida Hermínia:
ResponderEliminarA saudade é o amor que fica, mas também a angústia e a dor que permanece por o objecto do nosso amor já não estar fisicamente entre nós. Há realmente momentos na vida em que se sofre terrivelmente. Depois, com o tempo, aprende-se a gerir essa dor de forma (mais ou menos)equilibrada, mas ela não desaparece nunca. E é precisamente no Natal que a dor nos corroi com mais intensidade. Avizinha-se, pois, um período de maior sofrimento para muitos.
Um grande abraço para ti e uma semana tranquila.
Querida Elisa:
ResponderEliminarMãe é Mãe! É e será sempre a nossa luz, a nossa bússola.
Um abraço.
Olá, Verdinha:
ResponderEliminarGostei que me tivesses vindo visitar. E também gostei das tuas palavras simpáticas.
Um abraço grande.
Querida Isabel,
ResponderEliminarUm belo conto que nos transporta até à infância.
Recorda-nos a verdadeira dimensão do aconchego no colo materno. Não interessa o tempo que dura; pode até sofrer um desaire, como aconteceu no caso da menina, mas, devido á sua própria essência e grandeza, fica para sempre gravado na nossa memória!
Aí reside a imortalidade do amor de mãe.
Uma boa semana
Grande beijinho
E fez-se sentir a verdadeira magia do Natal:)!
ResponderEliminarUma excelente semana.
Abraço
Olá Isabel ,
ResponderEliminarbelo , comovente , sensível ... como são , sempre , os seus contos .
E vão , muitas vezes, tocar naquele dói que nenhum tempo apaga .
Mesmo sabendo que Ela " está " connosco , momentos há que falta o " colo " e o abraço .
Um beijo ,
Maria
Querido Petrus:
ResponderEliminarCada vez que abrimos o cofre da nossa lembrança, lá está a nossa infância. E nela, estão sempre a Mãe, o Pai, os Avós. E tu sabes bem do que falo, porque também tens o teu cofre, onde habitam todos os teus: aqueles que ainda te acompanham aqui, e aqueles que te acompanham e acompanharão sempre, sem que tu os vejas aqui. Nesse cofre, brilham sempre os Natais da nossa infância.
Um abraço grande.
Olá, Álvaro!
ResponderEliminarA verdadeira magia das coisas está na alma com que as olhamos.
Um abraço.
Querida Maria (Lilazdavioleta):
ResponderEliminarHá dores que ficam sempre, como a falta do colo e do abraço de uma Mãe.
Um abraço grande e obrigada pela visita.
Lindo e muito bem elaborado este conto de Natal!
ResponderEliminarEm tempos tive um sonho equivalente que durante muitos anos o senti como real... ficou-me gravado na memória...
Beijinhos
Querida Lilás:
ResponderEliminarFico feliz por ter ido ao encontro do seu sonho que, durante anos, sentiu como real.
Um grande abraço.
Isabel Maria
ResponderEliminarTalvez porque os contos, sonhos e desejos já se houveram passado há muito tempo...
Talvez porque o pedido foi algo de muito Amor, eu senti-me criança ante a ternura e a espiritualidade que o teu conto me transmitiu.
Conseguiste, Amiga. Agradeço-te.
Este, é dos Contos que mais me tocou.
Obrigado, Isa.
Beijos
SOL
Lindo esse conto de Natal...houve tempos que eu com os meus 12 anos pedia para a minha avó (que me criou), para ela voltar...e todos os Natais chorava a sua partida. Emocionou-me minha amiga, pois se nessa altura eu tivesse a possibilidade de ler o seu conto, eu acho, que não chorava mais. Adorei. Beijos com carinho
ResponderEliminarOs olhos que choram
ResponderEliminarNão sabem mentir
As mãos que me tocam
Levam à alma o sentir
O abraço sincero
Aplaina meu corpo frio
Veste-me de sol ardente
Solta meu sonho em azul rio
Os sonhos perdidos
As juras e promessas que fazia
Guardei-as num cofre
Lancei à maresia
Mágico beijo
Minha querida
ResponderEliminarJá li e reli...e desejei que os Natais fossem mais idênticos a este...repletos de sentimentos simples e grandiosos...a Isabel tem o dom de nos fazer acreditar na fé e desejar sonhar de formas inusitadas...adorei, principalmente pela vontade de milagres destes nos nossos Natais.
Um abraço do tamanho da sua Fé
Querida Isabel
ResponderEliminarSenti um bafejo de emoção ao ler este seu conto.Glorioso!Um encadeamento perfeito ponteado de luz, amor imenso e fé, muita fé.E nas asas do sonho poderemos alcançar tudo, até tocar o próprio Céu e sermos mimados de forma mágica por aqueles que já partiram...
Beijos meus e também da filhotinha. :)
Olinda
Olá, Profeta!
ResponderEliminarAgradeço a poesia.
Abraço.
Minha Querida Célia:
ResponderEliminar"A fé move montanhas" e os milagres são afinal realizados por nós.
Um abraço do tamanho da fé necessária nos tempos que correm.
Minha Querida olinda:
ResponderEliminarA possibilidade de "Tocar o céu" é o maior dom da fé humana e é por isso que ela vale a pena.
Obrigada peas suas palavras carinhosas.
Gostei dos beijos da Filhotinha.
Abraço as duas num só abraço.
Querida Rosa Branca:
ResponderEliminarFico feliz por, de certa forma, ter ido ao encontro do sonho da menina de 12 anos que pedia à avó-mãe para voltar. Ela é a luz que ilumina o seu caminho. Nunca chegou a partir.
Um grande abraço.
Olá, Sol!
ResponderEliminarFico contente por te teres sentido outra vez criança, com toda a beleza e ternura que isso envolve.
Um abraço.
Agradeço de coração sua visita
ResponderEliminarperdoe o atraso em retribuir seu carinho
que tanto bem me faz.
Logo terei boas novas se Deus quiser
creio que você ficara feliz como
estou .
Quero avisar quando tudo estiver tudo pronto
espero muito breve poder deixar postado minha alegria no blog.
Na vida não temos somente tristeza derrepente esquecemos
tudo Deus nos faz sorrir novamente.
Um abraço bjs no coração.
Um feliz e abençoado Domingo.
Evanir
Amei sua postagem assim que entrar Dezembro vou homenagear blogs com postagem de Natal.
Isabel que conto de natal maravilhoso. Com amor e fé conseguimos alcançar o universo. Amiga deixei no meu cantinho um obrigado aos Amigos. É um miminho bem simples para agradecer a todos os Amigos que me acompanham pela estrada da vida e para lhes dizer como aprecio e admiro os seus blogs que são tão Especiais.
ResponderEliminarBom domingo
Beijinhos
Maria
Olha...tive vontade de chorar...me tocou mesmo...
ResponderEliminarUm bj
Obrigada!
Querida Evanir:
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras.
Desejo que todos os seus sonhos se concretizem.
Um abraço bem grande.
Querida Maria:
ResponderEliminarA nossa fé ilumina toda a escuridão.
Um grande abraço e bom final de domingo.
Olá, Blueshell!
ResponderEliminarO final do conto é um final feliz na medida do possível. Fico contente por a menina ter sentido a sua alma afagada.
Um grande abraço.
Minha querida Isabel
ResponderEliminarDeu-me saudades de vir cá...deixo-lhe um abraço cheio de vitalidade para esta nova semana.
E, sim...concordo que a fé (os sonhos tb) move montanhas!!!
Um abraço do tamanho dessa crença
CF
Minha amiga passei para agradecer as suas gentis mensagens e para desejar Bom fim de Semana.
ResponderEliminarBeijinhos
Maria
Minha Querida CF:
ResponderEliminarObrigada por todo o seu carinho.
Um abraço do tamanho da sua generosidade.
Querida Maria:
ResponderEliminarIsso não se agradece.
Um grande abraço.
Olá, querida Isabel
ResponderEliminarVotos de um excelente domingo!
Beijinhos
Olinda
Um conto maravilhoso e comovente, escrito com a tua habitual maneira de nos cativar!
ResponderEliminarGostei muito.
Beijos.
Graça
Lindo, sensível, o seu conto de Natal, querida Isabel!
ResponderEliminarA época de Natal não me é fácil... e ao ler o seu texto - o silêncio abateu-se, mais profundo!
Mas sim, é verdade! A imortalidade faz com que não percamos aqueles que amamos... eles estão sempre por perto...
Um beijo carinhoso
Uma ternura de conto que me tocou imenso. Sim, aqueles que amamos se tornam, para nós, imortais, poi estarão sepre dentro de nós...serão sempre nossos.
ResponderEliminarMuito bom, tudo aqui, Isabel.
Somos Vizinhas..e também sou Isabel...LOL
Bj