sábado, 18 de dezembro de 2010
Solidão
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso
Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio
É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou
Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna
Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas", publicado por http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200811100103.
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... penso que já exprimi a admiração sobre Mia Couto! É um bardo da palavra transformada em sentimento.
ResponderEliminarUm poema belíssimo! Sensível escolha a sua!
Nem sei por onde começar, Isabel!
ResponderEliminarTantas publicações novas.....vou aos poucos, deleitando-me e saboreando.
Obrigada por esta viagem sensorial!!!!!
Temo que possa ter que "roubar" alguma(s) destas pérolas.....impossível ficar indiferente.
Beijinhos, Isabel e bom Ano!