quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas", publicado por http://www.citador.pt/poemas.php?op=10&refid=200811100102

1 comentário:

  1. Amei !!!...
    Já sou sua seguidora!!!...e não resisti a publicar, por seu intermédio, este belíssimo poema
    do nosso amado (já percebi que também é fã...) Mia Couto.

    Voltarei sempre!

    Beijinhos granes.

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