sábado, 25 de dezembro de 2010

Negra

Gentes estranhas com seus olhos cheios doutros mundos
quiseram cantar teus encantos
para elas só de mistérios profundos,
de delírios e feitiçarias...
Teus encantos profundos de Africa.

Mas não puderam.
Em seus formais e rendilhados cantos,
ausentes de emoção e sinceridade,
quedas-te longínqua, inatingível,
virgem de contactos mais fundos.
E te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual,
jarra etrusca, exotismo tropical,
demência, atracção, crueldade,
animalidade, magia...
e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias.

Em seus formais cantos rendilhados
foste tudo, negra...
menos tu.

E ainda bem.
Ainda bem que nos deixaram a nós,
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma,
sofrimento,
a glória única e sentida de te cantar
com emoção verdadeira e radical,
a glória comovida de te cantar, toda amassada,
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE


Noémia de Sousa, publicado por http://www.astormentas.com/din/poema.asp?key=7688&titulo=Negra.

1 comentário:

  1. Olá, Isabel

    Encontrei o seu blog por acaso e vou segui-la se mo permitir. Voltarei para deixar alguns comentários sobre aquilo que escreve e que muito me cativou.

    Este poema de Noémia de Sousa que aqui apresenta, é tocante.

    Um abraço

    Olinda

    ResponderEliminar